• Autor Luísa da Costa Crim Valente
  • Ano 2020/4
  • Localização -22.911, -43.227389
  • Coorientador Ana Paula Polizzo
  • Resumo

    Este Trabalho Final de Graduação consiste em uma proposta de intervenção para o antigo Museu do Índio do Rio de Janeiro, o qual atualmente faz parte do território ocupado pela Aldeia Maracanã, e em uma previsão de infraestrutura básica de saneamento para a área correspondente as construções posteriores feitas no lote pelo próprio coletivo. O ponto de partida para a confecção deste trabalho foi uma inquietação provocada pela situação da Aldeia Maracanã no momento presente, destacando-se a capacidade de resiliência do coletivo frente a uma situação de escassez de recursos e desassistência de qualquer instituição governamental, incluindo as que tratam da questão indígena no Brasil. A Aldeia Maracanã é uma aldeia criada em território urbano, no bairro do Maracanã, por um coletivo indígena que luta pelo reconhecimento de seus direitos e constrói uma ponte entre indígenas e o meio urbano, atuando como ponto de referência na região metropolitana do Rio de Janeiro, e as comunidades indígena e não-indígena por meio do ensino de sua cultura, desconstruindo o estereótipo social que ronda os povos originários no país. A ocupação teve inicio no ano de 2006 e mesmo com consecutivas tentativas de expulsão ao longo da última década, o grupo resiste zelando tanto pela sua sobrevivência como pelo antigo Museu, tombado pelo Instituto Rio do Patrimônio Histórico em 2013 e abandonado pelo poder público. Pela minha experiência, enquanto moradora da região e estudante da FAU, percebi que o estranhamento que a Aldeia provoca em muitos é apenas inicial – para os que se propõem romper o preconceito e conhecer seu trabalho e o espaço, é inevitável não encantar-se com a proposta do coletivo. Denominando-se Pluriversidade Indígena Aldeia Maracanã, são oferecidos cursos e oficinas, abertos a comunidade, de língua (tupi-guarani), plumária, miçangas, tijolos ecológicos, além dos eventos de rodas de conversa, mostra de músicas tradicionais, filmes e dança. Para participar é comumente pedido 1kg de alimento e/ou algo para o lanche, feito coletivamente sempre. A partir das visitas e da pesquisa feita para o trabalho, foi possível mergulhar na questão indígena e tentar compreender este outro lado, até então tão distante do meu. Nesse processo, ao conhecer um pouco do pensamento indígena sobre a ocupação e vivência do espaço, pude repensar muitas premissas que tinha como basilares na prática arquitetônica. Por isso, têm-se como partes igualmente importantes da proposta a investigação teórica e a intervenção prática. O trabalho enxerga duas questões. A primeira pode ser expressa na figura da ruína. Essa figura se apresenta sob dois aspectos, sendo o imediatamente perceptível o estado físico apresentado pelo antigo Museu, devido à ausência de propostas de conservação, mesmo com o decreto do tombo pelo IRPH. Hoje a situação da edificação é precária, com risco de desabamento. Já o segundo está ligado à uma ruína ideológica: a situação do antigo Museu também remete a formas insustentáveis de se pensar a arquitetura, relacionadas a uma lógica especulativa e excludente – visões em destaque na época de preparação da cidade para os Megaeventos (Copa do Mundo e Olimpíadas), quando a disputa pela posse do território da Aldeia foi intensificado. A segunda questão está relacionada ao conceito de território e retorno a terra. Por um lado, quando se discute a posse da terra e os processos de apagamento e reescritura do tecido urbano é preciso questionar por quem, para que e de que forma a cidade está sendo pensada. Tratando-se da questão indígena, esse debate é amplificado à medida que as disputas pelo direito da minoria a terra é um problema em âmbito nacional e está diretamente ligado também a esfera ambiental. É nesse sentido de reconhecimento e pertencimento ao território que se insere a discussão sobre identidade indígena, talvez a mais importante para o trabalho. É preciso entender quem são essas pessoas, o significado desse território e o porquê da ocupação. A Aldeia Maracanã, como dito anteriormente, luta para combater o estereótipo indígena presente no imaginário social urbano, especialmente. O coletivo não perde sua identidade indígena apenas por não estar no meio rural, ou seja, são hoje pessoas atravessadas por duas realidades opostas, que tem na capacidade de adaptação sua principal defesa. A proposta prática de projeto apresenta-se como um possível elo entre todas estas questões, como parte de um todo que inclui outras áreas disciplinares – história e teoria, sociologia, geografia, filosofia, museologia, artes - que foram fundamentais para o seu desenvolvimento. A intervenção no bem histórico consiste em um espaço “entre”, que atue como ponte entre a cultura indígena em um patrimônio da cultura branca, o museu e a universidade enquanto instituições de ensino, uma estrutura nova e uma ruína, em espaço limitado e um programa em constante mudança.


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